Pela falta de tempo, demorei um
pouco para escrever a segunda parte deste relato - provas, estágio, trabalhos
universitários, leituras... Porém, mesmo assim, estou aqui compartilhando
minhas experiências com vocês. Inspirando meus leitores a se aventurar pelo
Brasil, pela América Latina e pelo
Mundo.
Um dos meus principais objetivos,
ao criar este blog, foi levar vocês a perceberem que o limite para viajar muitas
vezes não é o dinheiro. O limite é o pré-conceito, em relação aos meios
alternativos de viajar (deslocamento=carona; hospedagem=couchsurfing), que
possibilita a uma pessoa viajar - com muito pouco dinheiro - para lugares inimagináveis.
Belo Horizonte, Minas Gerais
Sai bem cedo de Ribeirão Preto –
a carona que me hospedou me levou ao posto que eu iria dormir, caso ele não
tivesse não tivesse me hospedado, para pegar uma carona – com uma cegonha
(caminhão que carrega carros) rumo à Belo Horizonte. Ganhei do caminhoneiro um
mapa-guia completíssimo do Brasil, que infelizmente acabei perdendo numa nas
próximas caronas que havia pegado naquele dia.
Depois de quatro caronas – de
professor de filosofia à evangelizador espírita – cheguei em Belo Horizonte. Já
havia escurecido, quando havia chegado a BH. Minha última carona - o
evangelizador espírita, detalhe, que ele tentou me converter - me deixou no
metrô. Do metrô fui para o centro da cidade ao encontro do Leo Carona.
Finalmente conheci uma das
pessoas que me inspiraram a se aventurar na estrada. Combinei de me encontrar
com ele na esquina de uma padaria. Depois de termos nos conhecido, fomos para
um meeting (encontro realizado entre os integrantes do Couchsurfing) –
infelizmente não estava no momento em que o pessoal tirou uma foto – onde
conheci diversas pessoas maneiras.
Havia planejado ficar em torno de
três dias em BH. Acabei ficando uma semana, tanto por conta de que naquele
momento estava tendo greve dos caminhoneiros, quanto por ter amado BH. Meu roteiro
neste momento já havia ido para o espaço sideral. Dei-me conta de que era hora
de partir, de cair na estrada novamente, rumo ao Nordeste.
Aracaju, Sergipe
Finalmente estava rumo ao maravilhoso
nordeste brasileiro. No caminho entre BH à Governado Valadares - ainda em Minas
Gerais – peguei uma carona com um caminhoneiro, que não sabia dirigir muito
bem. Já em Governador Valadares, fiquei num posto, na onde outro caminhoneiro
veio conversar comigo. Ele havia me perguntado para onde estava indo, por
coincidência era o mesmo lugar. Ele acabou me oferecendo uma carona, detalhe
que eu nem havia pedido, acho que foi
por conta de eu estar trajado como um autêntico mochileiro.
Já na divisa de Minas Gerais com
a Bahia o caminhoneiro recebeu uma notícia, pelo rádio, que estava tendo greve
na maioria das rodovias da Bahia. Acabamos ficando um dia inteiro numa fila
enorme, sem fim, de caminhões. Tivemos que ir por uma rodovia alternativa, para
não enfrentarmos congestionamento. Por
conta dessa greve acabei ficando três dias na estrada. Este caminhoneiro foi
muito legal comigo, acabei ficando dois dias com ele. Ele fez janta e almoço
para mim, além de ter me deixado dormir dentro da cabine do caminhão, numa rede
prendida entre as portas.
O caminhoneiro generoso me deixou
em Itabuna, Bahia. Já havia anoitecido. No posto consegui uma carona até Feira
de Santana. Dessa vez foi um advogado que me deu carona. Chegando perto de
Feira de Santa – eu confiando no advogado que iria me deixar num posto 24h, na
rodovia principal que vai para Aracaju, Sergipe – o advogado me deixa num posto
fechado, que fica na via de entrada para Salvador. Minha primeira experiência
tendo que dormir no canto dum posto. Mesmo tendo barraca, achei mais seguro não
monta-la. Pensei que não havia ninguém no posto, até perceber que tinha um segurança.
Acabei não avisando que estava ali. Acabo caindo no sono. Do nada acordo com
uma lanterna na minha face e um homem com uma arma - era o segurança! Ele acaba
me pedindo para sair do posto, mas eu acabo implorando para ele me deixar ficar
ali, já que não tinha nenhum lugar para ir, sem contar que estava chovendo
naquele momento. O segurança acabou cedendo meu pedido. Depois da cena do
segurança, não consegui mais dormir. Passaram-se algumas horas, até que de
repente aparece um cara sem camiseta vindo do breu em minha direção,
aparentemente da minha idade, sentou ao meu lado. Ao conversar com ele, parecia
que estava sobre efeitos de alucinógenos. Por receio de ele me fazer algo,
acabei saindo de perto. O segurança percebeu que este indivíduo estava na área
do posto - pela minha "sorte" - acabou expulsando-o.
Enfim, depois das aventuras pela
estrada, cheguei ao meu destino: em Aracaju. Pena que fiquei apenas um dia por
lá. Uma cidade interessantíssima, que recomento a todos conhecê-la. Fiquei na
casa de uma senhora hilária, pelo Couchsurfing, que conversa com você como se
fosse sua amiga há séculos. Fui ao museu de Aracaju, além da praia. Queria ter
ficado por mais tempo, mas tinha que seguir minha viagem, já que tinha que
chegar a João Pessoa, aonde iria para um encontro de economia.
Maceió, Alagoas
Na saída de Aracaju peguei uma
carona com um baiano, que só falava das diversas mulheres que ele pegava em
Salvador, além de só ouvir “É o Tchan” - foi hilário. Ele me deixou numa
entrada de Maceió. Fiquei esperando por uma carona em torno de 20 minutos, até
que uma van de lotação parou. Achei que teria que pagar, como os outros
passageiros, mas felizmente o motorista não cobrou nada de mim.
Fui ao encontro do cara que me
hospedou em Aracaju – ele havia vindo para Maceió com sua namorada, antes de eu
chegar a Aracaju, mas mesmo assim eu fiquei na casa que ele mora com sua sogra
(a senhora hilária) – na rodoviária de Maceió. Acabei ficando no mesmo lugar
que ele estava hospedado.
À tarde fomos para praia,
juntamente com a moça que estava nos hospedando. Conversamos muito sobre
viagens. A noite fomos num meeting na casa de uma família. Tivemos aula de
salsa com um argentino e dançamos num jogo do Wii. Acabamos num bar muito bom, que
só tocava MPB, enquanto nós caiamos nas gargalhadas.
João Pessoa, Paraíba
Rumo a João Pessoa, passei pela
rodovia na cidade de Maragogi. Destino este, que tive que cortar do meu
roteiro, por ter ficado mais tempo em Belo Horizonte. Que lugar lindo, parece o
“caribe” brasileiro, tive vontade de descer do carro, que estava de carona, mas
tinha que seguir minha viagem até Recife, e depois para João Pessoa.
Fui ao aeroporto de Recife. No
aeroporto, fui me inscrever no serviço de correio aéreo nacional (CAN). Serviço
este, que todo o cidadão brasileiro tem o direito de pegar voos nacionais
gratuitos, que são oferecidos pela força aérea brasileira. O único problema
deste serviço que temos que esperar sair um voo.
Finalmente cheguei a João Pessoa,
no mesmo dia em que sai de Maceió. Fiquei por cinco dias na cidade, na casa de
um membro do Couchsurfing. Infelizmente não deu para conhecer alguns pontos turístico-históricos
da cidade por conta do encontro de economia, além de eu estar num bairro um
pouco distante desses locais. Porém, mesmo assim, aproveitei a praia – até
andei de bicicleta pela orla, uma experiência maravilhosa, ainda mais para uma
pessoa do interior do Paraná, como eu – no primeiro e no último dia em que
fiquei em Jampa. Fui também num café-balada GLS por duas vezes.
Recife, Pernambuco
Era domingo de manhã. Hora de me
despedir de Jampa. Fui para a saída da cidade, rumo a Recife. Estava prestes a
chover. Logo de cara, quando chego à saída, consigo uma carona com um policial,
que me passou seu contato para caso acontecesse algo comigo na viagem – ele me
disse se caso acontece-se alguma coisa, era para eu entrar em contato, que ele
grampeava meu celular e me localizaria haha – era para eu ligar.
O policial acabou me deixando
numas barracas na beira da estrada, onde se vendiam de frutas a artesanatos, já
que iria para uma cidade antes do meu destino. Neste local havia um
caminhoneiro parado, fui perguntar se ele passaria por Recife e supimpa,
consegui uma carona. Ele havia acabado de comprar uma graviola, numa das
barracas. Ao continuar a viagem, começamos a conversar e ele começa a cortar a
graviola com uma faca - enorme, se não me engano aquelas utilizadas por
açougueiros – me trazendo um pouco de receio. Apresentamo-nos, falamos de onde
somos e ele começa a falar de sua vida. De repente ele começa a falar que era
militar do exercito, daí eu pergunto o motivo dele ter saído. Ele começa a
contar que foi expulso por conta de ter traficado armas para o morro no Rio de
Janeiro – detalhe que ainda ele estava cortando a graviola com a bendita faca
de açougueiro – e que já tinha até ido para a Bolívia buscar drogas. Sem
contar, que ele me disse que uma vez deu uma carona para uma mulher e atrás
dessa mulher havia uma moita, onde havia dois caras armados. Quando ele
percebeu que era cilada, a mulher estava entrando no caminhão, deu tempo dele
pegar uma faca - talvez fosse a faca que eu não tirava os olhos - e impedir a
entrada dela, cotando-lhe seus dedos e fugindo a tempo – nesse momento ele já
tinha acabado de comer a graviola e guardado a faca, mas mesmo assim eu estava
aflito, toda essa situação me fez concluir que foi a pior carona até o presente
momento, que havia pegado em minha vida.
O caminhoneiro deixou-me em frente a UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Da universidade peguei um ônibus para o bairro onde iria ficar. Finalmente havia chegado a Recife, depois do sufoco que passei na ultima carona. Fiquei por quatro dias em Recife esperando sair um voo da FAB para São Paulo. Conhecei o marco zero em Recife – onde a cidade se iniciou – e outros lugares maravilhosos dessa cidade. Sem contar que fui para Olinda, outro lugar sensacional. Recife e Olinda são duas cidades que eu moraria algum dia da minha vida, são simplesmente perfeitas. Depois dos quatro dias – eu ligando todo santo-dia para a FAB – não apareceu nenhum voo para São Paulo. Adivinhem?! Acabei caindo na estrada.
Raul Soares, Minas Gerais
Eu pretendia voltar para o sul do
Brasil de avião com a FAB até São Paulo e
de lá ir para Raul Soares, na despedida do Leo Carona. Era seus últimos
dias no Brasil após partir para a Dinamarca.
O meu host (hospedeiro), em
Recife, me levou próximo da rodovia, onde eu iria para um posto tentar pegar
carona. Mas, de repente, no momento em que estava andando na beira da rodovia,
ouço uma buzina, olho para trás - adivinhe quem era?! - e - acredite se quiser
- me deparo com o caminhoneiro que era militar do exército, parado, me
esperando para subir no caminhão. Dessa vez foi totalmente tranquila sua
companhia, já não me assustava mais com o seu modo de ser. Ele iria carregar o
caminhão e desceria direto para o Rio de Janeiro, me deixando próximo a Raul
Soares. Porém, infelizmente, ele acabou perdendo a carga que iria carregar e eu
tive que prosseguir minha viagem. Fiquei o dia todo com ele esperando carregar,
era umas 16h30 quando ele me deixou num posto, na saída de Recife. Acabei
percorrendo poucos quilômetros neste dia, por conta do ocorrido.
Acabei chegando a uma cidade
próxima à Maceió, no dia em que sai de Recife, com um caminhoneiro do Rio
Grande do Sul. Fomos até um posto, onde ele e sua mulher iriam passar a noite,
para dormirem. Aproveitei para tomar um banho, já que iria ser difícil eu
conseguir uma carona naquele horário. Quando cheguei ao banheiro, não tive
coragem de tomar banho, a situação era muito precária, um lugar imundo. Fiquei
numa mesa perto da lanchonete - primeira vez que peguei um livro para ler, na
viagem - abordando os motoristas que chegassem, pedindo uma carona. Já era em
torno das 2h, quando converso com um caminhoneiro, falando que estou ali
tentando pegar uma carona para o sul do Brasil, mas acabei nem pedindo para
ele, pois já havia desistido naquele momento. Quando ele está voltando para o seu
caminhão, acaba me chamando para ir sua companhia, falando que iria percorrer a
estrada durante a noite.
Fomos até a divisa de Alagoas com
Sergipe. Paramos num posto de gasolina, onde ficamos para dormir um pouco - eu
queria continuar meu percurso, mas o posto em que estávamos não havia movimento
- até o amanhecer. Quando acordamos estava chovendo. Este caminhoneiro me levou
até uma cidade que fica próxima a Feira de Santana.
Já estava quase escurecendo.
Consegui uma carona que me levou até Feira de Santa, onde acabei conseguindo
outra carona até um posto de gasolina. Deste posto, acabei ganhando uma janta e
uma carona até outro posto a 40 km à frente, onde o caminhoneiro iria dormir. Neste
posto, cheguei em torno de meia-noite, fiquei tentando pegar uma carona durante
a noite toda. Acabei conseguindo apenas as 3h30, com uma cegonha. O
caminhoneiro não queria me dar carona, mas no fim acabou cedendo. Ele me deixou
em torno de 140 km antes da fronteira da Bahia com Minas Gerais.
Peguei carona com outro caminhão
que me levou para uma cidade em Minas Gerais, próxima da fronteira com a Bahia.
Nesta cidade consegui mais uma carona com um caminhoneiro. Após termos
percorrido alguns quilômetros paramos num trecho da rodovia, onde estava em obras.
Logo à frente ele iria entrar numa cidade, com isso acabei descendo do caminhão
e fui pedir carona para os automóveis que estavam parados, enquanto não
liberavam a estrada. Acabei conseguindo carona com uma família, num carro superlotado.
Infelizmente a família foi até um posto que fica em torno de 20 km de Governado
Valadares - faltava 188 km para Raul Soares, já era o 3º dia de estrada, que eu
enfrentava. A família estava indo para São Paulo, mas o motorista não podia
dirigir a noite, devido não enxergar muito bem - foi muito perceptível, não
precisava nem me avisar, para ver a forma que ele dirigia quando começou anoitecer,
confesso que senti um pouco de frio na barriga.
Era o 3º dia na estrada. Do posto
consegui uma carona até outro posto, já em Governador Valadares. Estava escuro
neste momento. Pedi carona para algumas pessoas, mas acabei não conseguindo.
Fui para a beira da rodovia, onde após 5 minutos consegui uma carona com um
caminhoneiro, que estava indo para São Paulo. Estava escrito na plaquinha que
eu havia levantado "Caratinga", que é uma cidade por onde há de passar
para ir a Raul Soares. Ao perguntar para o caminhoneiro se passaria por lá, ele
me respondeu que iria, mas ele estava indo para São Paulo - perrengue à vista -
por outro caminho. Acabei tendo que ficar em Ipatinga - eu já estava exausto,
muito cansado da viagem, naquele momento. Preferi passar a noite na rodoviária
de Ipatinga e ir de ônibus até Caratinga, do que tentar carona naquele horário.
Enfim, o ultimo dia na estrada,
antes de chegar a Raul Soares. Cheguei a Caratinga em torno das 6h30. Caminhei
da rodoviária até a via que vai para Raul Soares. Não passou 10 minutos, até eu
conseguir uma carona com um carro. O motorista foi bem divertido, ele vendia
roupas para lojas da região. Deixou-me no centro de Raul.
Fiquei uns quatro dias em Raul
Soares, na casa dos pais do Leo Carona. Foi muito divertido o período em que
fiquei por lá. Conheci pessoas maravilhosas. Bebemos horrores. Mas tudo ocorreu
nos conformes. Espero algum dia voltar em Raul, um lugar muito peculiar, no
interior de Minas Gerais.
Votorantim, São Paulo
Sai de madrugada de Raul Soares
rumo a Votorantim. Consegui carona até São Paulo (Capital) de onde peguei um ônibus
- devido ter escurecido e estar chovendo - para Votorantim. Fiquei por dois
dias na casa dum amigo, depois tendo finalmente partido para minha casa. Minha
última carona foi com um casal de Londrina, Paraná, que estava indo para
Umuarama. Deixaram-me na entrada da minha cidade.
Finalmente minha viagem estava
chegando ao fim. Já havia passado por diversas experiências - inusitadas e
marcantes - que nenhuma outra forma de viajar me traria. O conhecimento
adquirido na estrada, nas localidades em que passei e das pessoas que conheci
pelo Brasil, me fez mudar. Transformar-me numa pessoa mais simples. Busquei
encontrar em cada individuo que me ajudou a bondade que há em seu ser. Só o ato
de me dar à carona, já demonstrava sua bondade, mesmo que pequena e até imperceptível
algumas vezes. Como dizia o Profeta Gentileza: GENTILEZA GERA GENTILEZA!